sábado, 10 de janeiro de 2015

Primeiro negativo da nova fase

Demorei pra escrever porque tenho trabalhado muito e na verdade tenho sofrido muito. 

Não tem sido fácil conviver com um bebê ouvindo todos os anseios e desejos dos pais, e ver que estão reagindo de forma diferente do que eu faria e tantos outros colegas sugeriram e não poder fazer nada afinal a filha é deles. 

De início a menina já trocou a noite pelo dia e minha cunhada por não confiar que ninguém pudesse cuidar dela, não dormia de dia também. Estavamos eu e a mãe dela, mas ela não deixava a menina com nenhuma de nós. 

Imaginei que fosse a paixonite pela novidade. Mas mesmo comigo sentada ao lado dela no sofá, ela nunca ofereceu a menina pra eu segurar. Só consegui pegar no colo porque meu cunhado me entregava pra segurar um pouco, quando ela chegava e via, pedia a menina de volta. 

Enquanto isso ficavam torcendo pra menina ser branca, loira e de olhos claros e com cabelo liso.  Pra quem não sabe, ela é loira brancona e ele é mulato. E eu torcendo amargamente pra não ser nada do que eles queriam, tipo advogada do diabo. Poxa, a pessoa faz filho com um homem e fica com medo de parecer com ele. Então não queria ter um filho dele?!?!

E eu do fundo da minha invejinha ficava puta com todos esses assuntinhos. Eu chorava todos os dias, e quando não estava chorando escondido no quarto ou no colo do Diego, estava com uma cara péssima de enterro. 

Só que aí minha menstruação que nunca atrasa, atrasou, meus mamilos escureceram, o colo do útero ficou super alto e macio e eu vi que minha hora finalmente tinha chegado. 

Finalmente! Mudei a postura, mudei o semblante, perdi meu amargor. Voltei a babar pelas crianças fofas, a elogiá-los aos pais, a perguntar sobre os filhos dos outros. Finalmente tinha acabado meu tormento. 

Olha só como Deus foi bom, enquanto a bebê tava nascendo, eu estava ficando grávida. E pensei várias coisas que eu tinha amadurecido e entendi que realmente foi bom eu aprender o que aprendi sobre a vida antes de engravidar, mas agora tudo estava acabando e eu poderia comemorar. 

Fui visitar a Talita, aquela amiga com trombofilia e me informei sobre os cuidados necessários. 

No dia que era pra vir a monstra e não vejo (sempre vem no meio da noite e já levanto menstruada) tive uma ideia. Vou fazer o teste de farmácia e fazer uma surpresa pro Diego. Fiz escondido, mas... Deu negativo. Poxa eu tinha certeza que ia dar as duas listras, mas senti novamente aquela sensação de que nunca irei vê-las. 

Mostrei pra ele e comentei que iria fazer uma surpresa mas não deu certo. Ele sorriu e disse: está atrasado? Falei que sim e ele ficou todo feliz mesmo sem surpresa. 

Resolvi que iria esperar até segunda pra fazer o teste de novo. Porque a minha amiga grávida do post anterior também teve um negativo com poucos dias de atraso. 

Dois dias depois o colo do útero estava tão macio e os seios tão mudados que não agüentei, no caminho das compras do material da fábrica parei num laboratório e fiz um beta mesmo sem ter convenio. Custou 45 reais. 

A tarde fui buscar: meu primeiro negativo oficial da nova fase de tentantes. 

Chorei muito muito muito amargamente. Meu cunhado me pegou sentada no canto do freezer dentro da fábrica de sorvete me debulhando em soluços. Tive que inventar uma desculpa. 

Dias depois a cunhada surtou com a família, tentei acalmar, ouvi algo quase que como um "você não é exatamente da família" e tirei meu time de campo. Eu estava morando com ela porque meu marido dividia a casa com ela enquanto eu estava em SP. E agora que voltei, estamos aguardando nossa casa ser liberada pelo ex dono. 

Depois de saber que não sou da família e que a casa é só dela (meu marido pagava metade do aluguel), e com todo esse esforço psicológico de parecer que estou feliz por eles, me mudei pra um quartinho tosco abafado e sem janelas nos fundos da nossa fábrica de sorvetes e sou muito mais feliz aqui. 

Pois é, em 2014 não rolou. E se eu não conseguir nesse ciclo agora, já será fevereiro, o prazo que o médico deu pra eu conseguir naturalmente. Estou bem decepcionada. 

Claro que não desisti, mas pra quem tenta há tantos anos já até sabe: dá aquela vontade de jogar tudo pro alto, entra a dúvida se realmente tudo isso vale a pena. E estou medindo a temperatura, mas to seguindo minha vida, trabalho muito, entrei na academia, como o que quero quando quero. 

Mas a esperança nunca morre, e o medo de nunca conseguir só aumenta.